Lá
estávamos perdidos e sozinhos. Com fome, frio e machucados. Eu e minha irmã
Rudy caminhávamos perto um do outro para não nos perdermos. Era tudo muito
escuro e assustador, com barulhos que nos faziam estremecer. A cada susto era
um aperto em nossos corações.
Desde
pequeno eu, Thalles, cuidei da minha irmã como se fosse minha vida, ela era a
única coisa que me restava de nossa terrível história de perda.
Quando
ficamos órfãos, morávamos em um orfanato de uma senhora. Certo dia minha irmã
perdeu o juízo, querendo até cometer suicídio, e queria sair de um jeito ou de
outro daquela “prisão”. Ela planejava uma fuga, e como sou seu irmão e a amo
muito, resolvi ajudá-la.
Ela
tinha 15 anos e eu 17. A liberdade nos deu o direito de sonhar. Foi aí que comecei
a perceber “o que é paixão?”, como sentir naturalmente. De uma forma muito
diferente, posso dizer-lhe.
Onde
eu saberia que iria ter um desejo tão louco por uma pessoa que é do meu próprio
sangue, estava ficando maluco, perdendo a noção das coisas. Talvez estivesse alucinado
por um corpo que eu já conhecia, onde eu já sabia como “interpretá-lo” e cuidar
do mesmo.
O
corpo de Rudy possuía muitos arranhões por causa de alguns imprevistos na
floresta (como animais ameaçadores). E a cada dia sangrava mais, colorindo a
sua pele pálida como a luz do luar. Tão clara e fria quanto se possa imaginar.
O sangue parecia desenhar ao escorrer por sua pele. Ao contrário da minha, sempre
tão escura e quente. Ao tocar minha irmã, encontrávamos pequenos choques
térmicos enlouquecedores. Não sabia ao
certo o que ela sentia por mim, se era apenas amor fraterno. Eu só sabia de
apenas uma coisa: queria ela para mim, de qualquer jeito.
Ao
anoitecer, um crepúsculo belo nos mostrava um retrato da paisagem, na qual
admirávamos com os olhos bem atentos. Rudy adormeceu, com apenas uma camisa
toda desgastada e cheia de rasgos, e uma roupa íntima tentadora que exalava a
cor do sangue que saía de seus machucados. Comecei a acariciá-la e beijá-la com
delicadeza para não acordá-la. Acabei dormindo logo em seguida, muito cansado
do longo dia.
Ao
acordar, sentia algo frio a passar pelo meu corpo, me excitava tanta
delicadeza, tentava continuar a dormir para essa sensação não acabar. Quando
olhei pelo canto de meus olhos, enxerguei Rudy me dando um beijo no rosto de
“bom dia”. Por muito pouco, eu não a agarro.
Enquanto
o dia se passava, eu a admirava cada vez mais, não tinha olhos para mais nada.
E assim ela ficava linda, as vezes, eu até tentava conseguir um olhar. Olhos
castanhos, comuns para alguns, mas eu achava uma combinação perfeita. Possuía
também uma cicatriz ao lado do rosto que era disfarçada com seus longos cabelos
negros.
De
noite, a floresta em que estávamos, ficava úmida e obscura. Minha irmã estava a
tomar seu banho no lago, enquanto eu preparava a comida e os itens necessários
para sobrevivência. Quando terminei, percebia demora dela. Fui ver o que teria
acontecido, não quero que nada de mal a aconteça.
Passando
pela trilha, olhei pelo meio da mata, alta e densa. Ufa, ela ainda estava
tomando seu banho. Estava me chamando também, fiquei confuso. Tirei minhas
roupas, uma peça por vez, e entrei na água morna do lago. Ela é linda, era e
estava maravilhosa, e isso me excitava cada vez mais.
Quando
cheguei a ela, meu coração disparou. Segurei-a firme e forte, sem medo do que
esta garota poderia me fazer. Tirei-lhe um longo beijo, o melhor e mais belo de
todos. Percebi algo a me tocar, seriam as pernas dela? Olhando para conferir,
era um animal extremamente estranho e viscoso. Para mim parecia ser mais um
peixe nojento qualquer. Mal sabia eu que estava prestes a perder minha vida por
causa disto: uma jibóia!
Thalles
morto, sua irmã ficou desesperada. Ela sempre sonhou tão alto como nos contos
de fadas, que um beijo pode salvar uma vida, mas estamos no mundo real, coisas
assim acontecem somente por milagres e raramente. A Rudy o beijou intensamente
com muitas esperanças de vê-lo acordar, mas isso não aconteceu.
De: Luiza Estefano e Gustavo Oliveira
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